O Marketing dos Burros Anderson Schmidt, julho 17, 2023julho 17, 2023 Na sabatina da Folha, José Serra assegurou, quase num tom de promessa, que sua campanha no horário eleitoral seria baseada numa agenda positiva: mostraria um plano para o Brasil. Não partiria para o ataque pessoal contra nenhum candidato (e citou especificamente Ciro Gomes). A promessa resistiu bravamente durante quatro dias – até começar o horário eleitoral.Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!O principal fato da campanha, na semana passada, foi o ataque pessoal contra Ciro Gomes, apresentado na propaganda de Serra como um desequilibrado emocional. Exibiram pela televisão frases destemperadas do ex-governador cearense e imagens em que chama um ouvinte de “burro”. A Justiça interveio e proibiu, na quinta-feira, a veiculação daquelas imagens.Já poderemos ter algum indício da eficácia de tal ofensiva daqui a dois dias, quando serão divulgadas as pesquisas de intenção de voto referentes aos presidenciáveis. Pode-se dizer agora que a tática revela que os tucanos estão no limiar do desespero: mais importante do que apresentar um projeto de país é, neste momento, destruir Ciro Gomes, mirando não suas idéias, mas suas características psicológicas.Incomodado com a pancadaria, Ciro Gomes devolveu no mesmo tom, ao chamar Serra de “o ministro da dengue” e de “grampeador de telefones” – dois assuntos que estão engatilhados para entrar no ar.É ilusão acreditar que o horário eleitoral gratuito seja um espaço de informação. É antes um espaço de manipulação. Aposta-se que o eleitor tenha algum grau de burrice ou de desinformação. Esse é o princípio básico, irretorquível, que está por trás do marketing das eleições.Não se fazem apelos ao raciocínio, não se demonstra a viabilidade de programas. O apelo é para a emoção. Prova disso é Lula ter aparecido, de novo, chorando na tela, transformando em recurso eleitoral passagens dolorosas de sua vida privada.É por isso que, nesse período, valem menos os acadêmicos, acostumados a elaborar e a vender idéias, do que os publicitários, que vendem qualquer coisa – de cigarro, cerveja ou automóvel a candidato.Falar das manipulações e bobagens eleitorais, igualando todos os candidatos, é um caminho tão fácil quanto enganoso. Nunca vi uma eleição em que as idéias e a biografia dos candidatos fossem tão escancaradas por rádio, TV e jornal. Alguns, mais rigorosos, podem até argumentar – e com certa dose de razão – que o debate não é profundo e que os candidatos continuam a prometer mudanças sem dizer de onde vão tirar os recursos para empreendê-las. Essa distância entre a viabilidade e a ilusão apareceu retratada em todos os cantos e nos mais diferentes meios de comunicação.Há pelo menos duas explicações óbvias para essa transparência: a imprensa está mais ativa e a democracia está mais madura. Ainda estão frescas na memória dos jornalistas as falhas dos meios de comunicação – a Folha foi uma das raras exceções – na campanha de 1989, quando Collor venceu com a auréola de caçador de corruptos.A mudança do perfil de escolaridade do Brasil -nunca tanta gente foi para a escola – provocou uma explosão do ensino médio e um veloz crescimento do número de matrículas no ensino superior. Isso significa mais cidadãos atentos e em busca de conhecimento.Essa mudança já é visível na plataforma dos candidatos. Todos, sem exceção, apresentam planos para melhorar o acesso dos mais pobres à universidade, seja por meio de cotas, seja pela melhoria do ensino médio, seja pelo patrocínio dos cursinhos pré-vestibulares.Nesta eleição, fala-se mais do acesso à faculdade do que do acesso à terra, num movimento que indica as novas estruturas da sociedade brasileira.Até porque, entre os mais pobres, é crescente a convicção de que a obtenção de bons empregos e bons salários está condicionada à frequência a boas faculdades.Daí que os candidatos, por mais que façam do horário gratuito uma asneira mercadológica, não vão desfazer um fato: do ponto de vista da difusão de idéias, com todas as fragilidades, é a melhor eleição que já vi.P.S. – O PT acenou em seu programa de educação, lançado na semana passada, com a possibilidade de acabar com o provão. Com todas as ressalvas (é, de fato, apenas um elemento de avaliação), o teste ajudou a dar um choque no ensino superior, obrigando muitas fábricas de diploma a pensar mais em qualidade. Acabar com o provão é um gesto de burrice ou de demagogia barata. Só se compara em termos de irresponsabilidade a Paulo Maluf querer restabelecer a cultura da repetência, acabando com a progressão continuada.Fonte: Coluna GD Uncategorized